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Transporte no Brasil: Por trás da greve, um panorama dos EV

Todos os brasileiros viveram um momento de muita tensão social no final de maio de 2018 com a paralisação nacional dos caminhoneiros.

Em um país onde dependemos unicamente das rodovias, os 11 dias de paralisação foram capazes de desacelerar todos os setores comerciais.

Agora que a poeira abaixou, podemos fazer uma análise mais séria sobre tudo o que aconteceu.

Por que esse movimento foi capaz de parar o país? Como a nossa história nos levaou até esse cenário?

E por que estamos falando sobre isso em um site sobre carros elétricos?!

Nós aqui do CarroElétrico.com.br gostaríamos de fazer uma análise para que você, leitor, possa entender melhor como toda essa situação aconteceu.

Queremos é deixar claro alguns fatos e tendências do nosso país, o que podemos aprender com tudo isso e como relacionar essa crise com o advento dos carros elétricos.

Transportes no Brasil: o império das rodovias

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O grande efeito da paralisação dos caminhoneiros se deu pela estrutura logística no Brasil. Basicamente toda a nossa rede de mobilidade e abastecimento é baseada em rodovias.

Isso significa que, sem Diesel, rede de abastecimento e logística não funciona por falta de caminhões. Sem gasolina, o transporte particular diminui muito pois os veículos de passeio ficam dependentes unicamente do álcool.

Afinal, como tudo começou?

Você já deve ter ouvido falar que “o Brasil é o único país de dimensões continentais que não tem ferrovias”, ou algo do tipo.

E de fato, nossa malha ferroviária é precária. O Brasil possui aproximadamente a mesma extensão de ferrovias que a França, em torno de 29,7km.

Mas a grande diferença está na dimensão dos países, já que o território da França é equivalente ao estado da Bahia, sendo muito bem servido pelos 29,7km de ferrovias.

A história nos indica que o governo de Juscelino Kubitschek foi o momento no qual ocorreu essa decisão pelas rodovias.

JK, como é popularmente conhecido, anunciou um plano de metas um dia depois de tomar posse como presidente.

Esse plano, conhecido como 50 anos em 5, foi o grande promotor do desenvolvimento rodoviário.

“Governar é abrir estradas”

Esta frase de Washington Luís era o lema do governo JK. Um dos focos do plano 50 anos em 5 era o desenvolvimento da indústria automobilística.

Com quase 30% dos investimentos voltados para transportes, o governo JK investiu em rodovias pela rapidez de desenvolvimento (é possível desenvolver muito em pouco tempo) e pelo baixo investimento inicial (é possível desenvolver muito com muito pouco dinheiro).

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Além disso, nesse período foram implementados mecanismos para atrair as montadoras ao mercado nacional.

Tudo isso, no curto e médio prazo, foi muito positivo. Mas o aumento da demanda no setor de transportes sobrecarregou as rodovias, colocando toda a força de transportes e logística na nação nas boleias dos caminhões.

Petrobrás e monopólio dos combustíveis

A dependência do setor de transportes com a rede rodoviária está também ligada com a gestão do setor energético.

Uma das principais reivindicações dos caminhoneiros era a redução dos impostos cobrados sobre o diesel, uma pauta centrada justamente em um aspecto de gestão pública.

Essa crise não foi a primeira no mundo…

A história nos indica que houve crises semelhantes no mundo, nas quais o setor energético impactou diretamente a sociedade. Um episódio semelhante ocorreu nos Estados Unidos, por exemplo.

A Revolução Iraniana e a Guerra Irã-Iraque, durante a década de 1970, levou a uma enorme queda na produção de petróleo no Oriente Médio.

Com os principais fornecedores mundiais parados, ocorreu uma crise energética em escala global.

Sem combustível, o caos se instalou nos Estados Unidos. Os caminhoneiros realizaram diversas manifestações durante esse período.

Agravadas pela elevada tensão social, tais manifestações ficaram marcadas na história por toda a violência que foi gerada, levando até mesmo à morte de alguns manifestantes e milhares de desempregados.

Como a gestão da Petrobrás afeta o mercado?

No Brasil, não é possível falar de gestão do setor energético sem falar da Petrobrás. Sendo uma empresa estatal, a gestão da Petrobrás influencia diretamente o preço dos combustíveis, que por sua vez impacta toda a logística e transportes a níveis nacionais.

No início deste mês de junho, o então presidente da Petrobrás, Pedro Parente, pediu demissão do cargo.

Sua saída está ligada às pressões do governo sobre a política de preços da empresa, em decorrência da paralisação.

Parente assumiu a presidência da estatal no início do governo Temer, em 1º de junho de 2016. Durante seus dois anos enquanto presidente, Parente levou a uma melhoria geral nos indicativos da empresa.

O valor de mercado da Petrobrás subiu de R$125 bilhões para R$271 bilhões (aumento de 116,8%) nesse período, chegando a R$368 bilhões um dia antes do início da paralisação dos caminhoneiros.

Parente também foi o responsável por reduzir a dívida líquida da Petrobrás de R$392 bilhões para R$281 bilhões (redução de 28,3%).

Estes números mostram que Parente é uma figura que inspira a confiança dos investidores. E, assim, a sua demissão levou a uma grande queda no valor das ações da Petrobrás. A Bolsa brasileira chegou a congelar as ações da Petrobrás, tamanha foi a queda.

O novo presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro, possui a mesma filosofia de Parente: manter o preço do combustível atrelado ao dólar, atraindo investidores externos em uma tentativa de diminuir a dívida líquida.

Apesar de ter a mesma visão, Monteiro ainda não inspira a mesma confiança aos investidores.

E para o consumidor: qual o impacto?

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Com a Petrobrás desacreditada no mercado e suas ações em queda, a tendência é a dívida líquida da empresa aumentar enquanto o seu valor de mercado diminui.

Existem apenas duas formas da empresa se levantar de imediato, sem contar com os investidores externos.

A primeira consiste em um aumento do preço dos produtos e serviços prestados. Ou seja, aumentar o preço do combustível novamente.

Esse aumento nos preços seria então repassado de forma natural à população através de um aumento geral dos produtos e serviços. O que é pouco provável logo após a paralisação dos caminhoneiros…

A segunda forma é redirecionar a dívida da Petrobrás para outro setor da economia, como educação, saúde ou segurança.

Esse redirecionamento pode ser por cortes na verba repassada para esses setores ou por um aumento nos impostos cobrados.

Em qualquer um dos casos, não tem jeito: você e eu, cidadãos, pagaremos a conta.

E agora, qual a solução para a crise?

Entendendo tudo isso, ainda temos uma pergunta a responder. O que esse texto tem a ver com carros elétricos?

Você já deve estar pensando que diremos algo como “carros elétricos são a resposta para toda essa crise”. 1

Bem, essa não é a solução absoluta para a crise. Mas utilizar veículos que sejam movidos por formas alternativas de energia pode contribuir a mudar esse cenário.

Vamos citar aqui alguns pontos que mostram como a utilização de carros elétricos traria benefícios para a nossa sociedade.

Utilização de fontes renováveis de energia

O primeiro fator é também o mais óbvio. O petróleo vai acabar um dia. E pela Lei da Oferta e da Demanda, quanto menor a oferta para uma mesma demanda, maior é o preço.

Desenvolver uma frota com carros movidos a formas renováveis de energia, como a eletricidade, permitiria que os serviços de transporte não fossem tão impactos por um aumento no preço do barril de petróleo.

Até mesmo a utilização de veículos híbridos diminuiria – e muito – a dependência do mercado pelos combustíveis de origem fóssil.

 

Além, é claro, de todo o apelo ambiental que existe pela redução dos combustíveis não-renováveis.

Múltiplas fontes para produção de energia

Um dos pontos positivos em utilizar eletricidade como força motriz é a possibilidade de gerar energia de diversas formas. O diesel também pode ser obtido por fontes renováveis, chamado de biodiesel.

Uma lei que vigora desde 2005 impõe que o biodiesel deve ser adicionado ao diesel, aumentando o volume de combustível disponível e incentivando a produção de biodiesel.

Essa mesma lei prevê que um aumento gradual da porcentagem de biodiesel adicionado, que hoje é de 9% e deve aumentar para 10% em 2019.

No entanto, nada disso se compara à versatilidade da energia elétrica. Além de ser gerada em grandes usinas hidrelétricas, termoelétricas e eólicas, essa forma de energia também pode ser gerada por dispositivos menores, como placas fotovoltaicas.

Essa possibilidade de gerar energia sem a necessidade de uma grande usina permite diminuir a sobrecarga sobre as usinas produtoras.

Mesmo as grandes usinas sendo responsáveis pela maior parte da produção, uma maior autonomia da população diminuiria os efeitos da crise.

O que não é possível com os derivados de petróleo, quando o consumidor é plenamente dependente da Petrobrás e do Governo Federal.

Melhores condições de trabalho

Algumas das pautas levantadas pelos caminhoneiros diziam respeito às melhores condições de trabalho.

O desenvolvimento de carros elétricos sempre anda ao lado de uma maior tecnologia integrada nos veículos. Essa tecnologia permitiria essa melhoria que os caminhoneiros reivindicaram.

Um exemplo é o desenvolvimento de carros autônomos. Construídos em diversos modelos, de caminhões até veículos de passeio, esses veículos são capazes de trafegar sozinhos, apenas com a ajuda dos seus sensores.

Essa tecnologia permitiria, por exemplo, que o caminhoneiro se tornasse um supervisor do veículo para casos de falha do sistema autônomo.

Isso diminuiria o desgaste e o cansaço causado pelas intensas jornadas de trabalho no trânsito.

Claro, sabemos que mudar a fonte de combustível dos veículos não é algo que ocorre da noite para o dia e acarretará muitas mudanças nas relações sociais também.

É indispensável estar muito atento e bem informado às mudanças nesse setor.

Conhecemos bem algumas razões pessoais para comprar um carro elétrico, mas podemos ir além.

Essa crise deve nos ajuda a entender que uma frota de carros elétricos beneficiaria todo o futuro da nossa nação.