Quatro anos depois de revelar e três anos depois de ganhar destaque com uma moto elétrica no filme Vingadores, a Harley Davidson enfim anunciou oficialmente a entrada nesse mercado. O Projeto LiveWire enfim chegará ao consumidor no segundo semestre de 2019.
A novidade vem em meio a uma crise no setor de motocicletas. Após uma queda significativa durante a crise de 2008, as vendas seguem em recuperação, mas longe do que eram.
A procura por motocicletas diminuiu, assim como o número de novos motociclistas. Além disso, o mercado é mais fértil para os veículos de duas rodas menores – exatamente o oposto dos produtos mais famosos da Harley Davidson.
Sendo assim, ficou evidente que a Harley precisava rever alguns conceitos. E é nisso que entra a moto elétrica.
Para as novas gerações, motores a explosão potentes são menos atraentes. Em troca, ganham espaço os econômicos e menos poluentes.
Ou seja, seguem em uma direção oposta ao catálogo tradicional da fabricante. Daí explica-se a queda nas vendas.
O anúncio foi feito em meio à divulgação dos resultados financeiros de 2017. A expectativa é de que a moto elétrica possa atrair um novo público para a Harley.
O que você vai ver aqui:
Moto Elétrica da Harley Davidson será lançada em 2019
Em janeiro, a Harley Davidson revelou os resultados financeiros do quarto trimestre de 2017, assim como do ano inteiro. Os números não foram animadores.
A começar pelas ações, que caíram de lucro de US$ 0,27 para US$ 0,05 por papel comparado ao mesmo período em 2016.
No ano, o total foi de US$ 3,02, comparado a US$ 3,83 no ano anterior. O lucro líquido caiu de US$ 47,2 milhões para US$ 8,3 milhões nesse mesmo espaço de tempo.
Na questão das vendas, houve queda de 6,7% no total, sendo 8,5% no mercado norte-americano e 3,9% internacionalmente.
O presidente e CEO da montadora, Matt Levatich, elaborou a respeito do futuro da marca em um comunicado oficial.
“Nossas ações para abordar a presente situação por meio do controle de gastos e de fornecimentos de produtos nos coloca em uma boa posição enquanto seguimos em frente com nosso objetivo de longo prazo de criar uma nova geração global de motociclistas da Harley Davidson. Terminamos 2017 com 32 mil novos motociclistas nos Estados Unidos comparado ao ano passado, e entregamos mais um ano com forte geração e retorno de lucros para nossos acionistas”.
Continuando o comunicado, a fabricante enfim revelou a entrada definitiva no mercado elétrico, afirmando buscar “redefinir seu produto nos espaços tradicionais e expandi-lo para novos espaços”.
Também anunciou que irá investir de forma mais agressiva na tecnologia elétrica para liderar a indústria e inspirar uma nova geração de motociclistas.
“A moto elétrica está dando seus primeiros passos hoje, mas acreditamos que as motoselétricas da Harley Davidson ajudarão a impulsionar o interesse e a participação global no motociclismo. À medida que expandimos nossa capacidade e comprometimento com a energia elétrica, ficamos mais empolgados com o papel que as motos elétricas desempenharão no crescimento de nossos negócios”, finaliza Levatich.
A moto elétrica da Harley Davidson tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2019. Nenhum outro anúncio oficial foi feito.
A Harley Davidson e o Projeto LiveWire
Anunciada com pompa, a LiveWire foi a grande aposta da Harley Davidson em 2014. Diferente de tudo o que a montadora representa, uma motocicleta elétrica seria uma ruptura à primeira vista.
Com isso em mente, a fabricante iniciou um longo trabalho de aceitação. Primeiro desenvolveu e distribuiu vários protótipos para testes. Depois, foi a vez do grande desafio.
A LiveWire apareceu no primeiro filme dos Vingadores, lançado em 2015. A Harley definiu esse como o marco do projeto.
A aparição na película da Marvel seria crucial para o futuro do projeto. Caso a aceitação do público fosse positiva, a moto elétrica receberia sinal verde.
Mas o que se seguiu foi o silêncio. A LiveWire foi apenas uma distante lembrança ao longo de quatro anos. A Harley Davidson parece, enfim, disposta a responder às dúvidas sobre onde estaria o projeto.
Embora não haja nenhuma confirmação oficial se a nova moto elétrica de 2019 será a mesma LiveWire de 2014 e do filme, é fato que o novo produto compartilha dessa herança.
“Vocês nos ouviram falar a respeito do Projeto LiveWire. A LiveWire é uma empolgante e autêntica Harley Davidson elétrica.
Mais de 12 mil motociclistas confirmaram isso por meio dos testes que realizamos ao redor do mundo e esse é um projeto ativo que pretendemos levar ao mercado em 18 meses”, conta Levatich.
“O apelo universal do produto foi o aspecto mais importante dessa iniciativa. Isso nos deu confiança de que motos elétricas têm um alcance amplo.
Elas estarão presentes em garagens ao lado de Harleys assim como irão gerar um novo interesse no esporte”.
Conhecendo a LiveWire
Mas de nada adianta falar a respeito da LiveWire sem mostrá-la. No vídeo abaixo, do canal Cycle World, a moto elétrica é testada e explicada.
O barulho do motor elétrico é o que chama a atenção inicialmente. O engenheiro Jeff Richlen explica.
“O som que desenvolvemos para essa motocicleta é único. Não é silenciosa, longe disso. Terá um som bastante distinto, resultado da arquitetura que desenvolvemos para o motor elétrico. Diferente de outros produtos por aí que são bastante silenciosos, essa não será”.
Kirk Rasmussen, responsável por comandar a parte de estilo da motocicleta, reforça a ideia.
“Muitas pessoas que pilotaram essa moto compararam à turbina de um jato, e acho que é uma descrição correta”.
Rasmussen conta um pouco sobre o design da moto.
“Desenhar essa motocicleta foi um desafio único e uma grande oportunidade. Assim como nossos motores em V, destacamos o motor dessa motocicleta, que está bem no coração do desenho”.
O caráter experimental foi ressaltado por Richlen e Rasmussen.
“Esse é um produto muito diferente em vários aspectos. Acho que vai surpreender muitas pessoas e muitos compradores por não ser o que esperam de uma Harley Davidson. Quando olhamos para o mercado consumidor e para o potencial, certamente já teríamos oportunidades. Mas o Projeto LiveWire envolve coletar informações e entender o que os compradores querem”, diz Richlen.
“Estamos aqui oferecendo a oportunidade aos compradores de influenciar o projeto. E isso mostra nosso comprometimento com a tecnologia, com a inovação e com o futuro”, afirma Rasmussen.
“Não vemos isso como um desvio ou virar as costas para nossos compradores tradicionais. Olhamos para compradores que vemos como oportunidades adicionais, mas não é um indicativo que estamos nos distanciando dos produtos e consumidores tradicionais”, conta Richlen.
“Estamos procurando compradores progressistas. Podem ser jovens adultos ou da nova geração. Alguém disposto a dar uma chance a esse espaço elétrico. Alguém sem medo. Também buscamos novos compradores. Para algumas pessoas, motos são intimidadoras. E essa não tem marchas, então é uma direção bem confortável”, complementa Rasmussen.
O vídeo é encerrado com Rasmussen afirmando que não há uma data de lançamento definitiva para a moto, tampouco uma confirmação de que o projeto será levado adiante.
Mas nós, quatro anos depois, sabemos que a Harley decidiu seguir em frente com a moto elétrica. Já o avaliador finaliza avaliando a experiência com a moto como “muito positiva”.
Afinal, o que o futuro reserva para a Harley Davidson?
As dificuldades financeiras enfrentadas pela Harley Davidson são um indicativo claro de que a montadora precisava mudar. Uma dessas formas seria apresentar um novo produto e expandir o mercado consumidor.
Diante desse cenário, a fabricante agiu imediatamente e resolveu tirar da prateleira um antigo projeto. O mercado de motos elétricas é emergente, e a Harley busca entrar nele ainda no início.
Por outro lado, a marca arrisca perder seus compradores tradicionais. As motos convencionais da fabricante seguem na direção oposta. A Harley precisará garantir que terá condições para investir nas novas tecnologias.
Em caso de sucesso do novo produto, entretanto, o futuro da montadora pode ser bastante promissor.
Será possível manter os antigos compradores, conquistar novos e ao mesmo tempo investir em tecnologias avançadas? A ver.
Por enquanto, resta aguardar por 2019 e pelo lançamento da nova moto da clássica fabricante americana.
