Em dezembro de 2016, foi inaugurado na cidadezinha francesa de Tourouvre o primeiro painel solar em rodovia do mundo. Em outras palavras, a primeiríssima estrada solar rodoviária, com poder suficiente para iluminar todas as luzes de rua do pequeno vilarejo.
Ou seja, além de servir de passagem para carros e caminhões, o pavimento é também um painel solar que captará energia sustentável e renovável para os arredores.
É a estrada do futuro!
Com a presença da ministra Segolene Royal, a abertura oficial da estrada atraiu a atenção da mídia internacional, ajudando a esquentar o debate sobre o custo-benefício da medida e o que ela pode representar para o futuro da indústria internacional de energia.
Mas falatório por falatório, vamos tentar entender o que isto significa de fato e conhecer um dos maiores desenvolvedores e divulgadores da ideia.
O que você vai ver aqui:
Solar Roadways: a empresa americana que promete mudar o asfalto
A ideia de asfaltos geradores de energia tem sido o foco da pioneira empresa norte-americana Solar Roadways (Estradas Solares, em tradução literal) desde sua fundação em 2006.
Avançando aos poucos e completando projetos cada vez mais sofisticados, Scott e Julie Brusaw, casal fundador da empresa de engenharia, vêm desempenhando um papel importante não apenas no desenvolvimento da tecnologia nos Estados Unidos, mas também sua divulgação.
Basta notar a presença massiva da Solar Roadways na mídia.
Com isto, a então pequena empresa começou a despertar a atenção de empreendedores e ambientalistas para as possibilidades da rodovia fotovoltaica (rodovia solar em uma nomenclatura mais técnica).
No cenário idealizado pela companhia, que parece tirado de um filme de ficção científica, o pavimento das estradas seria substituído por painéis solares que, além de garantirem um fornecimento de energia ilimitado e sustentável, também trariam benefícios estéticos, manutenção facilitada, integração com cabos e até veículos autônomos, se pensarmos bem mais adiante.
Contudo, há um sério problema que impede as rodovias solares de se tornarem imediatamente uma realidade para o mundo inteiro e não apenas Tourouvre.
Painel solar em rodovia é muito caro
Apesar do otimismo, é preciso lembrar que se trata de uma tecnologia extremamente cara e que vem sendo questionada justamente por ainda não oferecer um custo-benefício atraente. Para efeito de comparação, o preço por quilowatt de uma estrada solar é quase 13 vezes o de um painel solar comum instalado no telhado ou no terraço.
Por conta disso, a construção da estrada solar de Tourouvre, apesar de seus avanços técnicos, foi duramente criticada como projeto caprichoso e ineficiente. Cinco milhões de euros foram investidos na pista única de um quilômetro, significando que atualmente seria preciso investir centenas de bilhões para cobrir a maior parte das vias rodoviárias da França.
Seus defensores, porém, argumentam que não há motivo para pânico.
Segundo eles, é natural que ocorra um barateamento da infraestrutura conforme a demanda pela tecnologia inovadora aumente. Previsões fazem crer que pelos idos de 2020 o preço por quilowatt da estrada solar será equivalente ao de um painel solar comum.
Afinal, como funciona uma estrada solar?
Esta é a pergunta que o investidor em potencial mais faz. Bom, quanto às especificações técnicas e complexidade da obra, engendrar um painel solar como estrada com certeza exige profissionais habilitados e de preferência ligados aos projetos internacionais que estudam sua implementação.
Além de serem constituídas de painéis solares, as pistas deverão possuir outras funções, como a sinalização LED e recarga induzida de carros elétricos (imagine não precisar mais encher o tanque, já que a sua estrada praticamente repõe sozinha a energia do carro).
Tais possibilidades apontam para um cenário futuro de maior economia de energia e facilitação do acesso, principalmente em tempos de calamidade ambiental ou eventos militares.
Por dentro da estrada solar
A estrutura de uma rodovia fotovoltaica, tal qual o idealizado pela Solar Roadways, divide-se em três camadas.
- Antes de tudo, uma camada superficial, obviamente mais resistente, que cubra e proteja as outras do desgaste produzido por veículos de carga e pela ação da natureza. Seu poder de tração é capaz de parar um automóvel correndo a 120 quilômetros por hora.
- A segunda camada, o “cérebro” da rodovia, é onde ocorre a coleta de energia e também onde o microprocessador monitora o funcionamento dos painéis solares, realizando atualizações inteligentes de temperatura e comunicação quando preciso.
- A terceira camada, a mais profunda, é o nível da distribuição da energia para seus destinos finais, isto é, os postes de luz, as casas, etc.
É bom lembrar que a maioria das funcionalidades pretendidas das rodovias fotovoltaicas está ainda em fase de elaboração, existindo mais como conceito a ser posteriormente explorado e desenvolvido. Porém, o sucesso da estrada de Tourouvre serviu para alimentar a ambição de quem pretende levar o projeto a novos patamares.
Além de Tourouvre, há outro exemplo proeminente de painel solar instalado em estrada. Mas não exatamente em uma rodovia.
Bicicletas já têm seu pavimento solar na Holanda
Antes mesmo da rodovia francesa dar as caras, em Amsterdam já havia sido construída uma pista pavimentada com painéis solares. E sendo famosamente conhecida como “a cidade das bicicletas”, é claro que esta pista tinha de ser uma ciclovia.
Inaugurada em 2014, a ciclovia SolaRoad em Amsterdam vem tendo resultados acima das expectativas na geração de energia e colaborado profundamente para a concepção de alternativas sustentáveis para o nosso mundo.
Assim, bicicletas e energia solar formam uma dobradinha perfeita para o combate à emissão de gases poluentes e melhor qualidade de vida da população em geral.
O material usado na SolaRoad é um pouco diferente do que foi feito em Tourouvre e, levando em conta que a ciclovia teve por enquanto resultados mais impressionantes do que os da rodovia, talvez seja um projeto ainda mais eficaz.
Estrada solar é o futuro
Não há dúvidas de que alternativas precisam ser encontradas para salvar nosso planeta. A energia solar é uma das melhores saídas.
Imaginar que chegamos a um ponto de desenvolvimento técnico-científico em que somos capazes de aproveitar o espaço já construído de rodovias para ampliar nossa matriz energética é incrível, não é mesmo?
Assim que o grande empecilho do financiamento for superado, é natural que a inovação vire tendência e que um futuro limpo, com sorte, estenda-se diante de nós.